sábado, 17 de abril de 2010

Pesquisadores esperam melhor vida de pacientes com Mal de Parkinson


Pesquisadores esperam melhor vida de pacientes com Mal de Parkinson
16/04/2010 - 22h49 ( - G1)

O coração de avó da dona de casa Maria Aparecida Franco esteve por um fio. Com as artérias entupidas e a circulação do sangue muito precária, Maria Aparecida quase foi vítima da principal causa de morte no Brasil: as doenças do coração.

Em 2005, ela virou notícia ao estrear uma novidade: a aplicação de células-tronco durante uma cirurgia convencional de ponte de safena.

"Você há de lembrar que, quando nós iniciamos esse projeto, cinco ou seis anos atrás, era uma estratégia absolutamente inédita, até então nunca antes explorada. Então, obviamente havia um receio por parte dos médicos sobre o que esperar dessa estratégia, a aplicação das células-tronco diretamente no coração, em termos de segurança", afirma o cardiologista Luis Henrique Gowdak, do Instituto do Coração (InCor) de São Paulo.

O tempo trouxe a certeza de que o tratamento é seguro. Maria Aparecida não deixa os médicos mentirem. "Eu já vi tanta gente morrer antes de mim. E era eu que estava na fila há sete anos. Incrível, como é a vida. O que é a ciência", conta a dona de casa.

A ciência vive de enfrentar um desafio atrás do outro. Na mesma pesquisa, não demorou para aparecer um tipo de paciente em estado ainda mais grave que ela. Gente que nem poderia ser operada.

"Nesse momento, nós reativamos um procedimento que estava caindo em desuso, que é a revascularização transmiocárdia através dos raios-laser. E nesse momento, pensamos: por que não combinar essa estratégia com uma estratégia inédita que era a aplicação de células-tronco para pacientes que eram considerados terminais, inoperáveis?", explica o Dr. Luis Henrique Gowdak.

No Instituto do Coração de São Paulo (InCor), a técnica já foi experimentada em nove pacientes: o coração é perfurado com laser para criar novos caminhos para o sangue que não circula mais por veias e artérias entupidas.

Depois, células-tronco mesenquimais, retiradas da medula do próprio paciente, são injetadas ao lado dos furinhos. "Esse doente é um caso em que o resultado foi muito importante. Era um senhor muito ativo e ele estava com uma angina incapacitante. Ele não conseguia nem amarrar o próprio sapato", diz um médico.

E ele voltou a ser ativo. Com o tempo, os furinhos do laser acabam se fechando, mas, ao lado deles, novos vasos se formaram ajudando a circulação do sangue.

"Além de o laser fazer por si só vasos, a célula-tronco fazer vasos por si mesma, nós imaginamos que talvez o laser potencialize a fixação das células-tronco nesse músculo", aponta a cardiologista Noedir Stolf, do InCor.

E assim, a cada nova hipótese, a pesquisa avança para produzir descobertas cada vez mais promissoras.

Qual a célula-tronco ideal para os músculos do coração? E qual seria a indicada para reparar o cérebro, por exemplo? Até vencer o desafio, o trabalho dos cientistas é um verdadeiro quebra-cabeças.

Um exemplo é o Mal de Parkinson. Pesquisadores do mundo todo ainda acham difícil encontrar a cura para doenças degenerativas, mas têm certezas que podem achar o caminho para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

A última experiência na Europa foi com células de fetos abortados. "Nesses estudos, não foi encontrado nenhum resultado significativo, ou seja, nenhuma melhora efetiva clínica nos pacientes que receberam transplante de tecido mesencefálico. Foi uma ducha de água fria", revela o biólogo Oswaldo Okamoto, da UNIFESP.

Em compensação, uma nova esperança nasceu no laboratório de Neurologia da Escola Paulista de Medicina. Usando células-tronco mesenquimais de cordão umbilical humano, os pesquisadores estão animados com o resultado dos testes em ratinhos.

"Primeiro, nós vimos que elas persistem no cérebro, ao passo que os animais que não receberam as células-tronco perdem cerca de 50% desses neurônios. Então, essa é uma proteção - a gente chama isso de efeito neuro-protetor - que foi estatisticamente bem significativo", explica Oswaldo Okamoto.

Os ratinhos com Parkinson, protegidos pelas células-tronco, não desenvolveram tremores nem problemas motores. Agora, os pesquisadores querem saber os efeitos a longo-prazo.

São respostas como essa que milhares de pacientes em todo o mundo esperam com ansiedade.

Um passo depois do outro, parece a coisa mais simples do mundo. O cérebro comanda, a medula transmite as ordens, nervos e músculos obedecem. Na verdade, esse sistema fascinante é muito complexo e sempre impôs à ciência um limite difícil de ultrapassar: o que fazer quando uma lesão na medula paralisa a máquina perfeita?

Os pesquisadores americanos conseguiram um grande avanço: uma forma eficiente de manipular as células embrionárias, para que elas não sejam rejeitadas quando injetadas na medula. As cobaias de uma pesquisa voltaram a caminhar.

Os testes em humanos podem começar ainda este ano e ter a parceria do Brasil. O Instituto de Ortopedia da Universidade de São Paulo é forte candidato.

"A complexidade da medula do sistema nervoso central do humano é muito maior do que nos animais onde foi testada. Então, tem que se observar se esses resultados vão se reproduzir ou não. Se isso ocorrer, vai ser um grande avanço e vai possibilitar que outros estudos clínicos voltem a ocorrer", explica o ortopedista Tarcísio de Barros Filho, da USP.

Esse é um bom pedaço do quebra-cabeça, mas provavelmente não é a solução final que exige um tremendo esforço de outras áreas da ciência.

"A gente observa nos congressos internacionais, na área de lesão medular, que são várias linhas de pesquisa diferentes, mas todas elas acabam convergindo, e eu acredito que a gente vai acabar tendo uma associação de técnicas diferentes na procura de uma solução", declara o ortopedista Tarcísio de Barros Filho, da USP. "É difícil dizer em quanto tempo. Essa é uma resposta que ninguém vai ter".

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